Olá queridos alunos dos 3º Anos Ensino Médio Maya, a partir desta semana irei postar todo o conteúdo a ser estudado aqui no Blog, para facilitar o acesso às Situações de Aprendizagem.
Peço gentilmente que leiam o conteúdo semanalmente, para a realização da explicação em sala de aula e entrega das atividades.Desta forma, nenhum aluno será prejudicado, visto que ministro somente uma aula semanal.Agradeço à todos !!!Um grande abraço e bons estudos !!!
CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES
Vamos estudar as origens, o contexto de surgimento e o significado da regionalização do mundo, com base na teoria do “choque de civilizações” de Samuel Huntington, criando uma visão crítica sobre seus fundamentos a partir de outros autores, principalmente Edward Said, e por que a aceitação da visão de Huntington representa certo reducionismo (reduzir os fenômenos) no entendimento da geografia do mundo atual, em virtude de se desconsiderar fatores geopolíticos, históricos, as disputas econômicas etc. A discussão sobre o assunto será iniciada a partir de acontecimentos relevantes e recentes no cenário mundial e, sem abandoná-los, estudaremos o paradigma (padrão) que modela a política internacional de hoje, principalmente após o término da Guerra Fria (1947-1991). Uma vez que pesquisadores considerem diferentes eventos como delimitadores do período da Guerra Fria entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), vale esclarecer que assumiremos aqui a aplicação da Doutrina Truman pelos EUA, em 1947, como o início efetivo da guerra velada entre estas duas superpotências, que perdurou até o fim da URSS, em dezembro de 1991.
Sua origem
Em um artigo intitulado “Choque de civilizações: na origem de um conceito”, Alain Gresh explica que a idéia de “choque” foi freqüentemente retomada para explicar os conflitos entre Ocidente e Oriente. Ainda em 1964, Bernard Lewis, um professor universitário britânico pouco conhecido, lançou a expressão que ficaria famosa. Se, por um lado, esta passou despercebida durante a década de 1960, de outro foi relançada por ele vinte e cinco anos depois na forma de um artigo, “As raízes da cólera muçulmana”. Gresh ressalta que:
“a visão de um ‘choque de civilizações’, contrapondo duas entidades claramente definidas, o ‘Islã’ e o ‘Ocidente’ (ou a civilização judeo-cristã’), está no centro do pensamento de Bernard Lewis, um pensamento essencialista que restringe os muçulmanos a uma cultura petrificada e eterna.”
GRESH, Alain. Choque de civilizações: na origem de um conceito.
Edição de setembro de 2004 do Le Monde Diplomatique.
Em 1993, Samuel P. Huntington, estrategista norte-americano, retomou a fórmula do “choque de civilizações” num célebre artigo que escreveu para a revista Foreign Affairs. O texto fez tanto sucesso e despertou tanta polêmica que levou o seu autor a ampliá-lo e, em 1996, Huntington publicou o livro Choque de civilizações: e a recomposição da ordem mundial, publicado no Brasil no ano seguinte.
O contexto geopolítico em que surgiu e seu significado
A expressão “choque de civilizações” adquiriu grande repercussão no contexto de incertezas da nova ordem mundial, logo após o fim da Guerra Fria (1947-1989), quando o mundo se deparou com a eclosão de conflitos isolados, motivados por rivalidades étnico-religiosas e culturais, contidos em sua grande maioria por regimes totalitários, como na ex-União Soviética e na antiga Iugoslávia. O tema é bastante atual, a maioria das guerras ocorre entre povos de civilizações diferentes, por exemplo, o conflito Israel-Palestina, as Guerras do Golfo, a desintegração iugoslava, a instabilidade na Caxemira, a luta pela independência na Chechênia ou mesmo a atual presença anglo-americana no Iraque.
O postulado (princípio não demonstrado de um argumento ou teoria) de Samuel P. Huntington, na obra indicada acima, constitui um esforço de compreensão do mundo e do novo quadro das relações internacionais emergente da implosão soviética, depois que as tensões políticas da velha ordem bipolar deixaram de subordinar um ou outro bloco ideológico. O autor propôs o paradigma civilizacional como modelo, assumindo que são as várias identidades culturais do mundo que modelam as coesões, as desintegrações e os conflitos numa nova ordem mundial Pós-Guerra Fria, onde, inclusive, Estados se aliam, ou não, em função dos sentimentos de pertencimento civilizacional. O cenário e a divisão do mundo propostos por Huntington foram estabelecidos após o autor ter analisado vários autores, entre os quais os historiadores Arnold J. Toynbee e Fernand Braudel. Nesse trajeto, há muitos pontos que Huntington não aborda ou apenas levanta de passagem, como é o caso da questão se os judeus seriam ou não uma civilização. Segundo ele, o mundo está dividido em nove “civilizações”: ocidental, africana, islâmica, sínica, hindu, ortodoxa, japonesa, budista e latino-americana. Defende-se nela que o futuro da humanidade poderá ser determinado pelo confronto entre diferentes civilizações, a partir da adesão a religiões e características culturais comuns. O ideal seria que cada civilização principal tivesse, pelo menos, um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas sabemos que apenas EUA, China, Rússia, França e Inglaterra são membros permanentes do Conselho. Assim, concluímos que a divisão de Huntington não é tão abrangente assim. Veja o mapa “A distribuição das civilizações de acordo com Huntington” nas páginas 6 e 7, no caderno do aluno e na legenda estão as características de cada civilização.
Edward Said, crítico literário e ativista da causa palestina, interpretou a teoria de Huntington como uma versão renovada da tese da Guerra Fria, pois entende que os conflitos do mundo atual e do futuro continuarão a ser essencialmente ideológicos, mais do que econômicos e sociais. Edward lembra que, a argumentação de Huntington falha por tratar a cultura como algo monolítico (único), imutável e homogêneo, ou seja, não considera as inquietações que existem dentro de cada cultura e aponta que a tese do “choque de civilizações” fundamenta-se na perspectiva de uma separação rigorosa entre diferentes culturas, desconsiderando os diversos fluxos que caracterizam o mundo de hoje, o que torna impossível, para qualquer cultura, manter-se completamente isolada das outras (por exemplo, as migrações, as misturas e o intercâmbio de culturas).
O paradigma (modelo) civilizacional de Huntington não é verificável a ponto de considerarmos o melhor. Uma das críticas, dirigidas à sua teoria, são as limitações quando contraposta à realidade geopolítica mundial, expressando uma visão reducionista (reduzir os fenômenos) diante das verdadeiras causas de muitos conflitos. Por exemplo, se voltarmos ao início da década de 1990, para lembrar o caso do genocídio em Ruanda entre hutus e tutsis, identificamos que eles são de grupos étnicos diferentes na religião, mas que pertencem, para Huntington, à “unidade cultural africana”, cujo confronto resultou na morte de 1 milhão de africanos numa guerra considerada como a maior catástrofe humanitária acontecida após a queda do Muro de Berlim (1989). Exemplificar a conflitualidade por intermédio do critério civilizacional ou religioso representa, muitas vezes, colocar em segundo plano os interesses mais ou menos legítimos dos atores internacionais, correndo-se o risco de certo reducionismo no entendimento da geografia do mundo atual em virtude de se desconsiderar fatores geopolíticos, históricos, as disputas econômicas etc.
Outros especialistas não concordam com a tese de Huntington, além de Edward, como Noam Chomsky, John Espósito, entre outros, que vinculam os conflitos à imposição de um modelo geopolítico e econômico controlado pelos países ricos e suas corporações. A identificação civil ou religiosa entre os povos não se verifica como o fator-chave de todos os conflitos no mundo atual. Além dos conflitos das fronteiras do mundo, temos as tensões político-militares entre Estados, grupos e nações a partir do conhecimento da geografia dos recursos vitais. Por exemplo, a disputa pelo máximo de controle do petróleo (um recurso vital), no Iraque, pelos norte-americanos; o caso dos Montes ou Colinas de Golã, assegurado pelos israelitas para garantir o fornecimento de água – um problema crônico em Israel – é um planalto inabitável, constantemente coberto de gelo, que serve de fronteira natural entre os países árabes: Líbano, Jordânia e Síria.
Entre outros autores recomendados, e que concederam entrevistas para jornais brasileiros a respeito da teoria do “choque de civilizações”, sugerimos John Espósito (professor de religião e relações internacionais da Universidade Georgetown, Washington).
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