Total de visualizações de página

quinta-feira, 26 de março de 2015

Triângulo das Bermudas

Fórum Enviar artigo
O Triângulo das Bermudas intriga os navegadores desde os tempos antigos. Cristóvão Colombo, quando atravessava a região em direção à América, relatou o avistamento de uma bola de fogo no céu que hoje supõe-se ter sido um meteorito. Colombo também foi um dos primeiros europeus a descrever sua passagem pelo temível Mar dos Sargaços.

O Mar dos Sargaços é uma região do Oceano Atlântico coberta por um manto de sargaços (uma espécie de alga) e foi durante muito tempo a verdadeira razão de tantos desaparecimentos no Triângulo das Bermudas. Suas longas calmarias com freqüência aprisionavam os navios à vela, levando os homens a abandonar seus navios ou morrer neles. Essa paisagem desolada de navios apodrecidos vagando à deriva com suas tripulações de cadáveres capturava a imaginação dos supersticiosos marinheiros, que denominavam a região de o "Cemitério do Atlântico".

Além de "Cemitério do Atlântico", o Triângulo das Bermudas era conhecido por "Mar do Demônio", "Mar dos Navios Perdidos", "Mar das Feiticeiras" e outras variações desses temas. O nome "Triângulo das Bermudas" só foi dado bem mais tarde pelo escritor de romances baratos Vincent Gaddis. O autor, que escrevia para o popular folhetim "Argosy" (considerada a mais antiga revista pulp americana), publicou em fevereiro de 1964 uma história chamada o "O Mortal Triângulo das Bermudas", que serviu como uma espécie de batismo para o mito. Mas foi outro escritor, Charles Berlitz, quem tornou o Triângulo das Bermudas tão popular.

 Charles Berlitz (1914 - 2003) era neto do fundador das Escolas Berlitz de ensino de língua inglesa, mas tornou-se mais conhecido por seus livros abordando temas sobrenaturais como o incidente Roswell e o continente perdido da Atlântida. Seu livro "O Triângulo das Bermudas", publicado originalmente em 1974 (no Brasil foi editado pela Nova Fronteira), vendeu mais de 20 milhões de cópias e foi traduzido para mais de 30 idiomas. Nele Berlitz descrevia os misteriosos casos atribuídos ao Triângulo das Bermudas, entrelaçando-os a outros mistérios como a Atlântida, avançadas civilizações ancestrais, deuses astronautas, abduções alienígenas, criptozoologia, a Experiência Filadélfia (sobre o que trataria em outro livro de sucesso) etc. em um grande pout-pourri sobrenatural. Bem escrito e com estilo cativante, o livro de Berlitz embalou o mistério do Triângulo para o consumo das massas.

Vôo 19 era o nome de um grupo de cinco caça-bombardeiros TBM Avenger da Marinha americana. O Vôo decolou de Fort Lauderdale no dia 15 de dezembro de 1945 e, após um bem sucedido exercício de treinamento, desapareceu sem deixar vestígios. Para tornar as coisas ainda mais misteriosas, um dos hidroaviões de resgate enviado algum tempo depois para procurar pelos caças também desapareceu.

O desparecimento do Vôo 19 desencadeou uma das maiores operações de resgate da história. Segundo Berlitz, mais de 240 aviões, navios da Marinha, barcos da guarda costeira, iates particulares e até submarinos esquadrinharam a região das Bermudas. Nada jamais foi encontrado. "Eles sumiram tão completamente como se tivessem voado para Marte...", haveria afirmado um dos membros da comissão que investigou o acidente.

Berlitz deu grande destaque ao caso em seu livro, enriquecendo a narrativa com histórias paralelas de pressentimentos, esquisitas coincidências e citações sensacionalistas, provavelmente retiradas dos tablóides da época. Havia, por exemplo, a mãe desconsolada de um dos pilotos desaparecidos que teria afirmado sobre seu filho: "sinto que ele ainda está vivo em algum lugar do espaço", e um certo Dr. Manson que tinha declarado ao jornal Miami News: "Eles ainda se encontram aqui, mas numa dimensão diferente, graças a um fenômeno magnético que pode ter sido criado por um OVNI". Com seu lugar garantido no folclore ufológico, o Vôo 19 recebeu destaque no filme "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" de Steven Spielberg. No filme os aviões são finalmente encontrados, mas no meio do deserto, e os pilotos libertados pelos alienígenas que os abduziram.

Outros Casos

Pouco mais de dois anos depois, em 29 de janeiro de 1948, um antigo bombardeiro inglês, o Star Tiger, também desapareceu no interior do Triângulo das Bermudas. O Star Tiger rumava dos Açores para as Bermudas com 25 passageiros. A última notícia que se teve dele foi uma comunicação do piloto com a torre de controle informando que chegaria ao destino na hora prevista; nada indicava que alguma coisa pudesse estar errada. Depois disso o avião nunca mais foi visto. A comissão da Marinha que investigou o desaparecimento do Star Tiger foi incomumente eloqüente em seu relatório final, deixando abertas as portas para especulações sobrenaturais:


"Pode ser realmente dito que nenhum problema mais estranho jamais foi apresentado para investigação. Diante da completa ausência de qualquer evidência segura quanto à natureza ou quanto às causas do desastre com o Star Tiger, esta corte não foi capaz de mais nada a não ser sugerir possibilidades (...) O que aconteceu neste caso jamais será desvendado."

Curiosamente, quase exatamente um ano depois, outro avião igual, o Star Ariel, também desapareceu no Triângulo das Bermudas sem deixar vestígios. Assim como o Star Tiger, nada indicava em seu último contato com o solo que algo pudesse estar errado. Outro caso semelhante foi o do avião comercial DC-3 que fazia o trajeto entre San Juan e Miami. Depois de um contato normal com a torre de controle em Miami, a apenas 80 quilômetros de distância, o avião e seus passageiros nunca mais foram vistos.

Além de aviões, há inúmeros casos de navios que ou desapareceram completamente ou que, mais misteriosamente ainda, foram encontrados sem nenhuma viva alma à bordo. Um dos navios misteriosamente desaparecidos no Triângulo das Bermudas foi o USS Cyclops (figura) que nunca mais foi visto após zarpar do porto de Barbados retornando de uma viagem ao Rio de Janeiro em 1918, no meio da Primeira Guerra Mundial. Outro desaparecimento famoso foi o do S.S. Marine Sulphur Queen, um navio tanque carregado de enxofre que desapareceu apos seu último contato próximo de Key West em 3 de fevereiro de 1963.

 Berlitz relata o caso de um navio brasileiro desaparecido no Triângulo das Bermudas: o São Paulo, na verdade um navio destinado ao ferro-velho que estava sendo rebocado por dois navios rebocadores na proximidade dos Açores. Temendo ser afundado pela tempestade que se aproximava, um dos rebocadores soltou o cabo que o prendia ao São Paulo durante a noite. Na manhã do dia seguinte os marinheiros descobriram surpresos que o cabo do outro rebocador havia se rompido e que o São Paulo e sua tripulação de 8 pessoas tinham desaparecido sem deixar vestígios.

Em qualquer pesquisa que se faça sobre o Triângulo das Bermudas muito provavelmente se ouvirá falar à respeito do Mary Celeste, navio português encontrado em 1872 à deriva completamente abandonado, com suas velas içadas e seu carregamento de álcool, víveres e objetos pessoais intocados. O estranho caso do Mary Celeste é por si só um prato cheio para explicações sobrenaturais mas na verdade nada tem a ver com o Triângulo das Bermudas; o navio foi encontrado a milhares de quilômetros dali, na costa de Portugal.

 O clima
A causa mais plausível para os desaparecimentos no Triângulo das Bermudas é bem menos estranha do que você pensa: o imprevisível clima da região. A região das Bermudas é conhecida por suas tempestades repentinas, que vem tão rapidamente quanto vão; às vezes tão rapidamente que não deixam tempo para que um alerta seja emitido. Trombas d'água também são comuns na região e podem afundar de forma fulminante um navio ou um avião apanhados em seu caminho. A natureza também pode explicar porque freqüentemente as equipes de salvamento não encontram vestígios dos aviões e navios vitimados nas Bermudas. Para início de conversa é muito difícil, mesmo durante o dia e com tempo bom, enxergar algo no mar a partir de um helicóptero, mesmo quando se sabe onde procurar, como já demonstrou o ótimo documentário da BBC "In Search Of Bermuda Triangle".

Ainda mais difícil do que procurar por vestígios em um local pré-determinado é procurar por sobreviventes quando não se sabe ao certo onde ocorreu o acidente. A situação piora quando a busca não é feita imediatamente após o acidente, por exemplo, quando o desparecimento é notado no final da tarde, uma vez que a corrente do Golfo, que se move com uma velocidade de até 8 km/h, espalha os destroços rapidamente. Some a este cenário o fato de que alguns dos locais mais profundos da Terra localizam-se no Oceano Atlântico na região das Bermudas e você terá boas razões para que os desaparecimentos no Triângulo das Bermudas sejam tão completos.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Vulcões no Brasil

Aos alunos do 7º Ano A e B, da escola Sylvio Maya, especialmente ao aluno Yuri, que demonstra grande interesse e curiosidade em relação à matéria, segue abaixo informações sobre a presença de vulcões no Brasil.

Anotem as dúvidas e levem na próxima aula, que esclarecerei aqui no Blog, por se tratar de assunto extra curricular.

Existem vulcões no Brasil?

A suposta existência de vulcões no Brasil gera certo receio por parte da população, que, no entanto, não possui muitos motivos para preocupar-se quanto a isso.
 As erupções vulcânicas são sempre motivo de preocupações para diversas sociedades ao redor do mundo. Grandes vulcões expelem uma inigualável quantidade de lava, atingindo uma vasta área que, se habitada, pode sofrer inúmeros danos. Esse fenômeno também ajuda a modelar o relevo, pois a lava quente, ao entrar em contato com a superfície fria, rapidamente se solidifica, originando alguns tipos de rochas, geralmente o basalto.

Mas será que existem vulcões no Brasil?
Felizmente, não. Em um passado geologicamente distante, havia uma grande quantidade de vulcões em nosso território, incluindo aquele que é considerado o mais antigo do planeta, formado na Amazônia há cerca de 1,9 bilhão de anos. Os mais recentes não se manifestaram em nossa área continental, mas em regiões oceânicas, originando ilhas pertencentes ao Brasil no Atlântico, incluindo Fernando de Noronha.

Atualmente, a não existência de vulcões no Brasil deve-se ao fato de o nosso território encontrar-se em uma área continental das placas tectônicas, isto é, ele está mais afastado da zona de encontro entre uma placa e outra. Além disso, o nosso relevo é considerado geologicamente antigo, de forma que ele já foi muito desgastado pelos agentes erosivos, ao mesmo tempo em que as crateras vulcânicas já deixaram de existir.
Na era Mesozoica, há cerca de 200 milhões de anos, houve manifestações vulcânicas nas regiões sul e sudeste do Brasil, originando formações rochosas do tipo basáltico, conforme explicamos no início do texto. Porém, com o tempo, essas rochas foram sofrendo as ações dos agentes intempéricos (sol, chuva, vento etc.), dando origem a um solo que hoje é chamado de terra roxa, muito fértil.
Outros indícios de atividades vulcânicas no passado geológico do nosso país são igualmente notados no continente africano, haja vista que em tempos remotos as duas áreas estavam interligadas, formando um único continente.

O suposto vulcão de Santos (SP)
Existem histórias de que poderia existir um vulcão ativo na cidade de Santos, litoral de São Paulo. Em 1896, acreditava-se que haveria um no bairro do Macuco, quando algumas escavações provocaram a insurgência de alguns gases quentes. Posteriormente, no entanto, descobriu-se que esses gases eram oriundos de um poço artesiano.
Recentemente, histórias contadas pela população e também facilmente encontradas na internet afirmam que um grupo de cientistas norte-americanos teria descoberto novamente a existência de outro vulcão na cidade santista. Porém, trata-se de um boato, uma vez que não há publicações em revistas científicas e nem em canais oficiais de comunicação a respeito. Trata-se de uma verdadeira lenda urbana, portanto.

E o vulcão de Caldas Novas (GO)?
Muitas pessoas também acreditam que exista um vulcão adormecido na cidade de Caldas Novas, Goiás. Tal fato deve-se às águas termais existentes na cidade e em seu entorno. Até a década de 1970, os geólogos também acreditavam nessa ideia, que, no entanto, mostrou-se falsa. Jamais houve qualquer tipo de vulcão, nem no presente e nem no passado, na região citada do estado de Goiás. A existência das águas termais em Caldas Novas é resultado do aquecimento geotérmico, o que ocorre em inúmeros outros locais do mundo, incluindo a Antártida.

Fonte:  http://www.mundoeducacao.com/geografia/existem-vulcoes-no-brasil.htm

terça-feira, 24 de março de 2015

Espaço Geográfico - A paisagem construída pela sociedade.




Aos alunos do 8º Ano - Introdução à Geografia do Ano Letivo.

Leiam com muita atenção !!!




Quando você abre a janela e observa a rua, ou o que houver ao redor de sua casa, você está diante de uma paisagem.
Esteja no campo, ou na cidade, você observará elementos que podem ser naturais ou construídos pelos seres humanos.
Os elementos naturais numa paisagem são, por exemplo: as árvores (e outros tipos de plantas que não foram cultivadas pelas pessoas), os rios, o solo, os morros, o mar. Há paisagens nas quais existem muitos elementos naturais, como as que podemos observar em florestas (a Amazônica, por exemplo, que vem sofrendo com o desmatamento acelerado nos últimos anos).
Já os elementos da paisagem que foram construídos pelos seres humanos, pelas mulheres e homens, são chamados de humanizados, culturais ou mesmo artificiais. São as casas, os edifícios, as ruas, os viadutos, as plantações (cultivos), as pastagens formadas pelas pessoas. Esses elementos são um resultado da ação humana, do trabalho de mulheres e homens.


Mas nas paisagens também existem outros aspectos percebidos pelos nossos sentidos: os sons, os cheiros, os movimentos - a circulação de pessoas e de veículos.


Paisagem humanizada

Considerando os movimentos nas paisagens, podemos perceber que elas mudam de um momento para outro. Por isso, afirmamos que elas são dinâmicas, estão sendo constantemente modificadas. Elas podem ser modificadas também: quando casas ou prédios são derrubados, e outros são construídos; quando uma área de floresta é desmatada; quando ocorre uma colheita numa área cultivada, por exemplo, com arroz; quando ruas, viadutos, pontes, rodovias, são construídos, etc.
No mundo atual praticamente não existe paisagem natural; são muito restritas as áreas onde existem apenas elementos naturais. Os oceanos, por exemplo, são constantemente atravessados por navios de todo tipo, seus recursos são explorados (inclusive de seu subsolo), em seus leitos há milhares de quilômetros de cabos submarinos feitos de cobre ou fibra óptica, que possibilitam as comunicações entre milhões de pessoas de diferentes continentes, diariamente. Em diversos trechos da floresta Amazônica são desenvolvidas pesquisas, atividades de exploração, muitas delas prejudiciais ao ambiente.
A paisagem humanizada (artificial ou cultural) é a que está presente nos mais vastos recantos do planeta. Nela coexistem elementos naturais e artificiais, havendo uma predominância destes últimos. No entanto, é preciso considerar que mesmo muitas plantas que existem nas paisagens bastante humanizadas, como as das grandes cidades, não apareceram e cresceram naturalmente, elas foram plantadas pelas pessoas. A sua existência, portanto, naquele determinado local, é resultado da ação humana.


Modificações e descobertas

Nas paisagens também encontramos elementos que foram construídos em diferentes épocas. Muitas vezes, em áreas onde a ocupação humana é antiga e contínua, verifica-se a presença de construções de diferentes períodos históricos. Em relação a isso, podemos pensar, por exemplo, em regiões da Índia e da Itália. Mas podemos também considerar algumas cidades brasileiras que foram fundadas no primeiro século da presença dos portugueses no Brasil: Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, entre outras. Nessas cidades e em muitas outras coexistem o velho e o novo, o antigo e o moderno.
As modificações nas paisagens também estão relacionadas com as novas descobertas que os seres humanos vão realizando, em termos tecnológicos, que fazem surgir novos modos de se produzir, novas mercadorias e novas formas arquitetônicas, entre outros. Por outro lado, há mudanças nas paisagens que são resultado de fatores naturais como a alternância entre o dia e a noite, e entre as estações do ano (quando podem ser percebidas, dependendo da localização); ou até de terremotos, por exemplo.


Espaço geográfico

Se fossemos consultar num dicionário a palavra espaço, constataríamos que há uma grande quantidade de significados. Para geografia o espaço são as paisagens, as relações que se estabelecem entre as pessoas (sociais, econômicas, políticas, etc.), as relações entre as pessoas e a natureza, e as próprias pessoas. Esse espaço é chamado de espaço geográfico.
Percebemos, assim, que a noção de espaço geográfico é mais ampla que a de paisagem. Ao pensarmos no espaço geográfico estamos pensando nos elementos e aspectos que existem nas paisagens, mas também nas diversas ações que as pessoas realizam nas paisagens. Essas ações correspondem aos variados tipos de atividades humanas: trabalho, estudo, lazer. Envolvem, portanto, relações econômicas, sociais e políticas. Trata-se de algo bastante dinâmico.

 Anselmo Lazaro Branco é professor de Geografia e autor do livro "Geografia Geral e do Brasil - Ensino Médio".

domingo, 15 de março de 2015

Estudo da formação territorial do Brasil por meio da literatura: o contexto cultural.



4. Estudo da formação territorial do Brasil por meio da literatura: o contexto cultural



A narrativa proporciona aos leitores uma viagem imaginária para o interior do mundo relatado. É uma espécie de mapeamento da experiência cotidiana vivenciada por alguém, em algum lugar. Enredo, personagens, tempo, lugar, foco são alguns dos elementos profundamente interligados numa narrativa que se complementa no todo da história. Vamos explorar esse universo literário para a ampliação do nosso horizonte geográfico por meio da diversificação de linguagens.

Um exemplo de dimensão cultural das fronteiras políticas é o Rio Grande do Sul. Seu território é resultado da história ocorrida a partir da destruição das missões jesuíticas por tropas portuguesas e o tenso contato com as comunidades indígenas e a América espanhola em seus arredores. O contexto regional, no qual estavam inseridos os gaúchos no século XVIII, justifica a condição de isolamento da fronteira gaúcha, distante milhares de quilômetros das outras cidades e de povoados portugueses, numa zona de fronteira politicamente instável, como observamos nos mapas “Rio Grande do Sul: primeira metade do século XVIII” e “Rio Grande do Sul: campanha gaúcha do século XIX” nas páginas 34 e 35 no caderno do aluno. Por exemplo, os empreendimentos portugueses naquela época eram a construção de fortificações e a fundação de povoados como Rio Grande de São Pedro (Porto Alegre).

Observando esses mapas citados, percebemos que a ocupação portuguesa ocorre do litoral para o interior. A Vila do Rio Grande de São Pedro, que dá origem a Porto Alegre, era o povoado mais antigo, além de algumas fortificações. No final do século XIX, vários povoados já existiam nas proximidades do Rio Uruguai, como São Borja, aproximando os limites territoriais gaúchos da atual forma do Rio Grande do Sul.

            Segundo o Atlas de representações literárias do IBGE, não faltam exemplos de boas narrativas do povo da fronteira no Rio Grande do Sul. A condição de fronteira conquistada e o forte sentimento de pertencimento do povo gaúcho marcaram profundamente a Geografia, a História e a literatura do Estado.

Vamos “mergulhar” no universo cultural da fronteira, lendo um fragmento dos “Contos Gauchescos” de Simões Lopes Neto, na página 37, no primeiro quadro, do caderno do aluno e de um outro do romance, “Um quarto de légua em quadro”, de Luiz Antônio de Assis Brasil, na página 38. Coloque-se no lugar dos personagens ou do narrador da história. Que sentimentos a narrativa desperta? Medo? Curiosidade perante o desconhecido?


Para aprofundar o conhecimento do universo imaginário da fronteira, a sugestão é o contato com a obra de Érico Veríssimo, especialmente “O tempo e o vento”. Trata-se de uma trilogia dividida em “O continente”, “O retrato” e “O arquipélago”, com uma abrangência histórica de duzentos anos. No trecho selecionado abaixo, o autor narra a relação do tempo com o lugar explorando a ligação entre a formação do território e o enredo:

               


“Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu. O Vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte continuamente vai girando o vento, e volta fazendo circuitos”
VERÍSSIMO, Erico. O tempo e o vento: o Continente. Volume I.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.32. © Herdeiros de Erico Veríssimo.





           


Estudo da formação territorial do Brasil por meio de mapas.



3. Estudo da formação territorial do Brasil por meio de mapas

Como se consolidou a formação territorial do país? Vamos analisar as ações políticas e territoriais, responsáveis pela consolidação histórica de nossas fronteiras e que culminaram em um país de dimensões continentais.
Os mapas mais antigos do Brasil revelam a forma de ocupação do território durante os primeiros séculos de dominação portuguesa: o interior da Colônia, ainda desconhecido, “enfeitado” com ilustrações indígenas, plantas e animais “exóticos”, e o litoral, que estava sendo explorado, ocupado e nomeado. Durante muito tempo, as atividades econômicas mais importantes do Brasil colonial – responsável pela produção de mercadorias extrativas e agrícolas para comercialização nos mercados europeus – permaneceram nas proximidades do mar e dos portos marítimos.
Os mapas da América Portuguesa do século XVIII revelam uma mudança muito importante: as cartas náuticas foram substituídas pelas cartas topográficas e passaram a ser valorizadas como recurso fundamental para localizar as riquezas encontradas no interior da Colônia. As cartas topográficas transformaram os conhecimentos da Cartografia em importantes instrumentos para o registro das informações obtidas do território na ocupação do interior do continente. Esse detalhamento dos mapas das terras brasileiras foi um recurso técnico fundamental para o sucesso das negociações diplomáticas que garantiram a posse portuguesa do atual Rio Grande do Sul e uma parcela considerável da Bacia Amazônica, conforme ficou estabelecido no Tratado de Madri (1750).


A configuração do território mudou ao longo do tempo, por isso é importante estudar os mapas históricos para compreender como ocorreu esse processo.
Os mapas mais antigos do Brasil e da América do Sul revelam a forma de ocupação do território pela Coroa Portuguesa durante as primeiras décadas da colonização. Observe o “Planisfério de Ptolomeu, 1486”, nas páginas 20 e 21 do caderno do aluno. Cláudio Ptolomeu viveu no século II e era geógrafo, astrônomo e matemático alexandrino. Ele escreveu duas grandes obras: “Composição matemática, estudo sobre Astronomia” e “Geografia, um manual com instruções para a elaboração de mapas e uso de projeções”. A obra de Ptolomeu foi conservada pelos árabes e introduzida no ocidente durante a Idade Média. Mantida nas bibliotecas européias, seus mapas representam a visão que os europeus tinham do mundo pouco antes das grandes navegações, com base nos conhecimentos acumulados desde a Grécia antiga e era a principal fonte de consulta para o estudo do mundo conhecido antes das grandes navegações. Essa edição se encontra na Biblioteca Nacional.
            Os continentes conhecidos pelos europeus eram Europa, Ásia e África. As ornamentações da moldura do mapa eram pessoas soprando o vento (deuses do vento). Essas figuras, desenhadas na decoração do mapa, estão associadas com o uso das cartas nas navegações (eles usavam as direções dos ventos e das marés para orientação). Para os europeus daquela época, não existia a América.
            O segundo mapa da série, o “Planisfério de Wytfliet (detalhe), 1597”, na página 22 do caderno do aluno, é considerado o primeiro atlas americano, rico em detalhes, principalmente ao se considerar o traçado de alguns rios. Seu autor foi um belga que simplesmente inseriu na base cartográfica de Ptolomeu as terras recentemente descobertas. Os elementos geográficos da América do Sul utilizados na representação desse mapa eram rios e montanhas e as duas principais bacias hidrográficas representadas no mapa eram a Bacia Amazônica e a Bacia do Prata.

Preparação da leitura e comparação de cartas seiscentistas
Os mapas seiscentistas apresentam um rico detalhamento de informações sobre o litoral brasileiro.
Se observar um mapa do relevo brasileiro atual, preste atenção nas bacias hidrográficas: percorra o curso d’água do rio Amazonas e depois do rio Paraná, desde a nascente até a foz. Faça o mesmo procedimento para reconhecer o trajeto percorrido por outros rios brasileiros, como o São Francisco, o Araguaia e o Tocantins. Esses três últimos rios correm no sentido sul-norte (representados cartograficamente, na folha de papel, como se fosse um traçado “de baixo para cima”). Nem “tudo que está em cima desce”. O mapa é apenas uma representação e, portanto, vocês devem considerar o traçado em solo.
Para finalizar essa leitura exploratória, vamos estudar o “Planisfério de Cantino, 1502”, nas páginas 24 e 25, e o mapa “Terra Brasilis”, de Lopo Homem nas páginas 26 e 27: as desembocaduras dos rios das principais bacias hidrográficas eram referências para a navegação costeira no novo continente. As informações mais precisas que os portugueses possuíam das novas terras, em 1502, conforme registro no “Planisfério de Cantino” é o traço da linha de Tordesilhas, que dividia as possessões das novas terras e as que porventura fossem descobertas pela Espanha e Portugal. Do novo continente, já estão traçados, dentro da precisão da época, o perfil atlântico do Brasil e, de forma bem detalhada, as ilhas do Caribe. Trata-se de uma carta náutica, na qual é possível observar o traço da direção dos ventos em toda a superfície representada. Já em 1519, em “Terra Brasilis”, de Lopo Homem também há os rumos dos ventos, mas o detalhamento das informações da costa brasileira é muito maior, inclusive com a indicação dos nomes de inúmeras localidades. As ilustrações ornamentais desses dois mapas, tecnicamente chamadas iluminuras, complementam as informações mais precisas do mapa com uma série de aspectos pitorescos como naus, caravelas, cidades, homens e animais, desenhados de maneira figurativa. Os pontos extremos do avanço português, tanto para o Norte como para o Sul foram a foz do Amazonas (Norte) e a foz da Bacia do Prata (Sul).
A interpretação dos mapas é uma habilidade muito importante para a compreensão da Geografia: é a transposição de um conhecimento expresso em uma linguagem para outra.
O acervo documental dos séculos XVII e XVIII é bastante rico em detalhes em função da forte expansão dos portugueses em direção ao interior da América. Alguns traços comuns nas narrativas são as situações que ocorreram no litoral, envolvendo embarcações ou o contato com indígenas. As cartas e diários, como fonte de registros históricos, são importantes porque não havia outra forma de comunicação naquela época. Hoje, as formas de comunicação do mundo atual (internet, rádio, televisão) facilitam a disseminação de novas idéias e notícias.
Além dos mapas, muitas bibliotecas, arquivos e museus do Brasil e de Portugal possuem documentos como cartas e diários de bordo, importantíssimos para o estudo da História e Geografia de nosso país. Este é o caso do material existente no Arquivo Nacional que, a exemplo da Biblioteca Nacional, possui um site muito interessante – um exemplo das novas formas de comunicação e de divulgação das informações no mundo contemporâneo.
A carta “Contato entre brancos e índios”, nas páginas 29 e 30 no caderno do aluno, foi extraída desse site e retrata as condições sob as quais os portugueses viviam nas localidades distantes do litoral. Os personagens envolvidos na situação são padres, bandeirantes e índios. O autor da carta escreve para seus superiores a respeito do receio de um padre de viajar por alguns caminhos onde vivem índios hostis aos portugueses. Segundo relato do padre, quando houve a tentativa de aproximação, os desbravadores foram atacados pelos índios, o que exigiu o uso de armas de fogo. A ocupação portuguesa no interior da América não foi pacífica. O fato ocorreu nas proximidades de Cuiabá, em 1820.

            Se compararmos mapas do século XVII com o mapa das entradas e bandeiras (séculos XVII e XVIII), identificamos alguns elementos geográficos comuns: os rios conhecidos eram os da Bacia do Prata e da Bacia Amazônica. A zona de contato entre essas duas bacias era a região do Pantanal, indicada nos mapas como um grande lago no interior do Brasil. A maioria dos lugares identificados (com nome) está localizada no litoral. Os portugueses conheciam, do território paulista, seguindo o traçado dos rios Paraná e Paranapanema, algumas cidades e povoados criados no litoral paulista, como Itanhaém e São Vicente. As ruínas de missões jesuíticas, nos atuais territórios do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, estavam localizadas ao sul da capitania de São Vicente. Nessas regiões, jesuítas espanhóis haviam ensaiado fixar o índio à terra, por meio da catequese. Vila Rica, por exemplo, possuía 45 mil habitantes, quando foi invadida e destruída pelo bandeirante Raposo Tavares, em 1628. Os mapas eram importantes para a consolidação das posses portuguesas e indicavam os principais caminhos adotados na exploração do interior do continente.
Uma idéia importante para o desenvolvimento do conceito de território é a diferenciação entre fronteira e limite:
- Fronteira é mais amplo e pode ser compreendido como a margem do mundo conhecido ou habitado. Neste caso, a idéia de fronteira como frente pioneira ou área de expansão em direção a territórios “vazios” ou “a conquistar” sempre foi muito forte no caso brasileiro. Contudo, a emergência dos estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de terras coloniais como ocorreu com Portugal na América associaram fronteira à linha de divisa entre estados vizinhos; configura uma zona de contato (fator de integração).
- Limite tem sua origem no fim daquilo que mantém coesa uma unidade político-territorial; é uma linha de separação abstrata, porém definida juridicamente (fator de separação).
As diferenças entre fronteira e limite são essenciais, uma vez que a primeira é orientada para fora (forças centrífugas) e a segunda para dentro (forças centrípetas).
Observando os mapas utilizados para a demarcação dos limites territoriais do Brasil, no século XVIII, identificamos o que estava em discussão entre Portugal e Espanha: a definição do traçado de linha divisória. Esses mapas indicavam inúmeros acidentes geográficos, necessários como pontos de referência da documentação diplomática (amigável). Os rios ou as cadeias montanhosas foram utilizados para a demarcação dos limites territoriais do país.
Contudo, a emergência dos estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de terras coloniais como ocorreu com Portugal na América associaram fronteira à linha de divisa entre estados vizinhos.