4. Estudo da formação territorial
do Brasil por meio da literatura: o contexto cultural
A narrativa proporciona aos leitores uma viagem
imaginária para o interior do mundo relatado. É uma espécie de mapeamento da
experiência cotidiana vivenciada por alguém, em algum lugar. Enredo,
personagens, tempo, lugar, foco são alguns dos elementos profundamente
interligados numa narrativa que se complementa no todo da história. Vamos
explorar esse universo literário para a ampliação do nosso horizonte geográfico
por meio da diversificação de linguagens.
Um exemplo de dimensão cultural das fronteiras
políticas é o Rio Grande do Sul. Seu território é resultado da história
ocorrida a partir da destruição das missões jesuíticas por tropas portuguesas e
o tenso contato com as comunidades indígenas e a América espanhola em seus
arredores. O contexto regional, no qual estavam inseridos os gaúchos no século
XVIII, justifica a condição de isolamento da fronteira gaúcha, distante
milhares de quilômetros das outras cidades e de povoados portugueses, numa zona
de fronteira politicamente instável, como observamos nos mapas “Rio Grande do
Sul: primeira metade do século XVIII” e “Rio Grande do Sul: campanha gaúcha do
século XIX” nas páginas 34 e 35 no caderno do aluno. Por exemplo, os
empreendimentos portugueses naquela época eram a construção de fortificações e
a fundação de povoados como Rio Grande de São Pedro (Porto Alegre).
Observando esses mapas citados, percebemos que a
ocupação portuguesa ocorre do litoral para o interior. A Vila do Rio Grande de
São Pedro, que dá origem a Porto Alegre, era o povoado mais antigo, além de
algumas fortificações. No final do século XIX, vários povoados já existiam nas
proximidades do Rio Uruguai, como São Borja, aproximando os limites
territoriais gaúchos da atual forma do Rio Grande do Sul.
Segundo o Atlas de representações literárias do IBGE, não faltam exemplos de
boas narrativas do povo da fronteira no Rio Grande do Sul. A condição de
fronteira conquistada e o forte sentimento de pertencimento do povo gaúcho
marcaram profundamente a Geografia, a História e a literatura do Estado.
Vamos “mergulhar” no universo cultural da
fronteira, lendo um fragmento dos “Contos Gauchescos” de Simões Lopes Neto, na
página 37, no primeiro quadro, do caderno do aluno e de um outro do romance,
“Um quarto de légua em quadro”, de Luiz Antônio de Assis Brasil, na página 38.
Coloque-se no lugar dos personagens ou do narrador da história. Que sentimentos
a narrativa desperta? Medo? Curiosidade perante o desconhecido?
Para aprofundar o conhecimento do universo
imaginário da fronteira, a sugestão é o contato com a obra de Érico Veríssimo,
especialmente “O tempo e o vento”. Trata-se de uma trilogia dividida em “O
continente”, “O retrato” e “O arquipélago”, com uma abrangência histórica de
duzentos anos. No trecho selecionado abaixo, o autor narra a relação do tempo
com o lugar explorando a ligação entre a formação do território e o enredo:
“Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre
permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu.
O Vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte continuamente vai
girando o vento, e volta fazendo circuitos”
VERÍSSIMO, Erico. O
tempo e o vento: o Continente. Volume I.
São Paulo:
Companhia das Letras, 2007. p.32. © Herdeiros de Erico Veríssimo.
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