2. Fronteiras permeáveis
No estudo do território
brasileiro, vamos aprofundar o estudo das fronteiras nacionais. Diferentemente
da idéia de limite, o termo fronteira é mais amplo e pode ser compreendido como
a margem do mundo conhecido e habitado. Neste caso, a idéia de fronteira como
frente pioneira ou área de expansão em direção a territórios “vazios” ou “a
conquistar” sempre foi muito forte no caso brasileiro. Contudo, a emergência
dos Estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de terras
coloniais, como ocorreu com Portugal, na América, associaram fronteira à linha
de divisa entre Estados vizinhos. Ou seja, a palavra limite tem sua origem no
fim daquilo que mantém coesa uma unidade político-territorial. Assim, limite é
uma linha de separação abstrata, porém definida juridicamente (fator de
separação), enquanto fronteira configura uma zona de contato (fator de
integração).
Vamos estudar a situação do Brasil na zona de
fronteira com seus países vizinhos (zona de fronteira internacional), a partir
de exemplos de cidades gêmeas, contíguas territorialmente com outras cidades de
países vizinhos. No caso do Brasil, há inúmeras cidades na zona de fronteira,
inclusive 123 delas consideradas cidades-gêmeas.
No mapa “Zona de Fronteira – Cidades e Vilas”, na
página 10 do caderno do aluno, observe a faixa laranja, que apresenta a zona de
fronteira. Observe os outros países.
Os únicos países sul-americanos que não possuem
fronteira com o Brasil são o Chile e Equador. No caso do Chile, o contato por
terra com o Brasil se estabeleceu por meio da Argentina, tendo a cidade de
Mendonza como ponto de apoio para a travessia da Cordilheira dos Andes; se
observarmos o mapa, podemos atravessar o Paraguai ou a Bolívia. O Equador pode
ser acessado através do Peru e da Colômbia. Bolívia é a fronteira mais
permeável e extensa, com inúmeras interações. No sentido do sul para o norte,
observam-se grandes cidades como Corumbá, Cáceres, Vilhena e Rio Branco,
localizadas na faixa de fronteira. Há uma rodovia que liga Corumbá a Santa Cruz
de la Sierra. Mais ao norte, podemos observar várias cidades-gêmeas, como
Brasiléia (Acre) e Guajará-Mirim (Rondônia). O estado brasileiro que possui uma
ocupação mais densa na zona de fronteira é o Paraná. Fazendo divisa com o
Paraguai e a Argentina, possui inúmeras cidades na zona de fronteira e um intenso
comércio com os países vizinhos.
Um exemplo de cidade-gêmea e as interações
existentes em sua zona de fronteira é o de Guajará-Mirim, Rondônia. Ela está
separada de sua cidade-gêmea boliviana Guayaramerín apenas pelas águas do rio
Mamoré, como mostra a foto de satélite “Guajará-Mirim e Guayaramerín” na página
11. É possível avistar pessoas que vivem na outra cidade, na margem oposta.
Apesar de essas pessoas viverem em países diferentes, elas podem fazer parte de
várias interações. Do Brasil para a Bolívia circulam produtos alimentícios,
calçados e eletrodomésticos. Da Bolívia para cá circulam madeira, borracha,
gado bovino e castanha. As capitais Porto Velho (Rondônia) e Rio Branco (Acre)
mantêm relações econômicas com a Bolívia através de Guajará-Mirim. São
comercializados, principalmente, combustível e gêneros alimentícios, por via
terrestre.
Outro exemplo é o caso de Tabatinga (Brasil) e
Letícia (Colômbia). Diferente de Guajará-Mirim, para o viajante cruzar a
fronteira internacional entre Tabatinga e Letícia não precisa atravessar um
rio. Basta atravessar ou ir em frente por uma das avenidas da cidade brasileira
e o visitante já se encontra em outro país, como podemos observar na foto de
satélite “Tabatinga e Letícia”, na página 13. Essa é a situação cotidiana de
milhares de brasileiros que vivem na fronteira. O Brasil estabelece interações
econômicas com o mundo por meio de Tabatinga. Além do intercâmbio que se
estabelece com a Colômbia e o Peru, por essa zona fronteiriça o Brasil conecta
essa região com outros países, como os Estados Unidos e a China. Os produtos
industrializados provenientes da China e Estados Unidos chegam nessa zona de
fronteira através do transporte marítimo, desembarcados no porto de Manaus. De
Manaus, essas mercadorias seguem para Tabatinga por via fluvial e de lá são
distribuídas para o interior da Colômbia e do Peru. Em Tabatinga
comercializam-se produtos alimentícios, material de construção e pescado. Em
Letícia, os brasileiros compram gasolina, autopeças, cigarros e produtos
eletroeletrônicos.
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