3. Estudo da formação territorial
do Brasil por meio de mapas
Como se consolidou a formação territorial do país?
Vamos analisar as ações políticas e territoriais, responsáveis pela
consolidação histórica de nossas fronteiras e que culminaram em um país de
dimensões continentais.
Os mapas mais antigos do Brasil revelam a forma de
ocupação do território durante os primeiros séculos de dominação portuguesa: o
interior da Colônia, ainda desconhecido, “enfeitado” com ilustrações indígenas,
plantas e animais “exóticos”, e o litoral, que estava sendo explorado, ocupado
e nomeado. Durante muito tempo, as atividades econômicas mais importantes do
Brasil colonial – responsável pela produção de mercadorias extrativas e
agrícolas para comercialização nos mercados europeus – permaneceram nas
proximidades do mar e dos portos marítimos.
Os mapas da América Portuguesa do século XVIII
revelam uma mudança muito importante: as cartas náuticas foram substituídas
pelas cartas topográficas e passaram a ser valorizadas como recurso fundamental
para localizar as riquezas encontradas no interior da Colônia. As cartas
topográficas transformaram os conhecimentos da Cartografia em importantes
instrumentos para o registro das informações obtidas do território na ocupação
do interior do continente. Esse detalhamento dos mapas das terras brasileiras
foi um recurso técnico fundamental para o sucesso das negociações diplomáticas
que garantiram a posse portuguesa do atual Rio Grande do Sul e uma parcela
considerável da Bacia Amazônica, conforme ficou estabelecido no Tratado de
Madri (1750).
A configuração do território mudou ao longo do
tempo, por isso é importante estudar os mapas históricos para compreender como
ocorreu esse processo.
Os mapas mais antigos do Brasil e da América do Sul
revelam a forma de ocupação do território pela Coroa Portuguesa durante as
primeiras décadas da colonização. Observe o “Planisfério de Ptolomeu, 1486”,
nas páginas 20 e 21 do caderno do aluno. Cláudio Ptolomeu viveu no século II e
era geógrafo, astrônomo e matemático alexandrino. Ele escreveu duas grandes
obras: “Composição matemática, estudo sobre Astronomia” e “Geografia, um manual
com instruções para a elaboração de mapas e uso de projeções”. A obra de
Ptolomeu foi conservada pelos árabes e introduzida no ocidente durante a Idade
Média. Mantida nas bibliotecas européias, seus mapas representam a visão que os
europeus tinham do mundo pouco antes das grandes navegações, com base nos
conhecimentos acumulados desde a Grécia antiga e era a principal fonte de
consulta para o estudo do mundo conhecido antes das grandes navegações. Essa
edição se encontra na Biblioteca Nacional.
Os continentes conhecidos pelos
europeus eram Europa, Ásia e África. As ornamentações da moldura do mapa eram
pessoas soprando o vento (deuses do vento). Essas figuras, desenhadas na
decoração do mapa, estão associadas com o uso das cartas nas navegações (eles
usavam as direções dos ventos e das marés para orientação). Para os europeus
daquela época, não existia a América.
O segundo mapa da série, o
“Planisfério de Wytfliet (detalhe), 1597”, na página 22 do caderno do aluno, é
considerado o primeiro atlas americano, rico em detalhes, principalmente ao se
considerar o traçado de alguns rios. Seu autor foi um belga que simplesmente
inseriu na base cartográfica de Ptolomeu as terras recentemente descobertas. Os
elementos geográficos da América do Sul utilizados na representação desse mapa
eram rios e montanhas e as duas principais bacias hidrográficas representadas
no mapa eram a Bacia Amazônica e a Bacia do Prata.
Preparação da leitura e
comparação de cartas seiscentistas
Os mapas seiscentistas apresentam um rico
detalhamento de informações sobre o litoral brasileiro.
Se observar um mapa do relevo brasileiro atual,
preste atenção nas bacias hidrográficas: percorra o curso d’água do rio
Amazonas e depois do rio Paraná, desde a nascente até a foz. Faça o mesmo
procedimento para reconhecer o trajeto percorrido por outros rios brasileiros,
como o São Francisco, o Araguaia e o Tocantins. Esses três últimos rios correm
no sentido sul-norte (representados cartograficamente, na folha de papel, como
se fosse um traçado “de baixo para cima”). Nem “tudo que está em cima desce”. O
mapa é apenas uma representação e, portanto, vocês devem considerar o traçado
em solo.
Para finalizar essa leitura exploratória, vamos
estudar o “Planisfério de Cantino, 1502”, nas páginas 24 e 25, e o mapa “Terra
Brasilis”, de Lopo Homem nas páginas 26 e 27: as desembocaduras dos rios das
principais bacias hidrográficas eram referências para a navegação costeira no
novo continente. As informações mais precisas que os portugueses possuíam das
novas terras, em 1502, conforme registro no “Planisfério de Cantino” é o traço
da linha de Tordesilhas, que dividia as possessões das novas terras e as que
porventura fossem descobertas pela Espanha e Portugal. Do novo continente, já estão
traçados, dentro da precisão da época, o perfil atlântico do Brasil e, de forma
bem detalhada, as ilhas do Caribe. Trata-se de uma carta náutica, na qual é
possível observar o traço da direção dos ventos em toda a superfície
representada. Já em 1519, em “Terra Brasilis”, de Lopo Homem também há os rumos
dos ventos, mas o detalhamento das informações da costa brasileira é muito
maior, inclusive com a indicação dos nomes de inúmeras localidades. As
ilustrações ornamentais desses dois mapas, tecnicamente chamadas iluminuras,
complementam as informações mais precisas do mapa com uma série de aspectos
pitorescos como naus, caravelas, cidades, homens e animais, desenhados de
maneira figurativa. Os pontos extremos do avanço português, tanto para o Norte
como para o Sul foram a foz do Amazonas (Norte) e a foz da Bacia do Prata
(Sul).
A interpretação dos mapas é uma habilidade muito
importante para a compreensão da Geografia: é a transposição de um conhecimento
expresso em uma linguagem para outra.
O acervo documental dos séculos XVII e XVIII é
bastante rico em detalhes em função da forte expansão dos portugueses em
direção ao interior da América. Alguns traços comuns nas narrativas são as
situações que ocorreram no litoral, envolvendo embarcações ou o contato com
indígenas. As cartas e diários, como fonte de registros históricos, são
importantes porque não havia outra forma de comunicação naquela época. Hoje, as
formas de comunicação do mundo atual (internet, rádio, televisão) facilitam a
disseminação de novas idéias e notícias.
Além dos mapas, muitas bibliotecas, arquivos e
museus do Brasil e de Portugal possuem documentos como cartas e diários de
bordo, importantíssimos para o estudo da História e Geografia de nosso país.
Este é o caso do material existente no Arquivo Nacional que, a exemplo da
Biblioteca Nacional, possui um site muito interessante – um exemplo das novas
formas de comunicação e de divulgação das informações no mundo contemporâneo.
A carta “Contato entre brancos e índios”, nas
páginas 29 e 30 no caderno do aluno, foi extraída desse site e retrata as
condições sob as quais os portugueses viviam nas localidades distantes do
litoral. Os personagens envolvidos na situação são padres, bandeirantes e
índios. O autor da carta escreve para seus superiores a respeito do receio de
um padre de viajar por alguns caminhos onde vivem índios hostis aos
portugueses. Segundo relato do padre, quando houve a tentativa de aproximação,
os desbravadores foram atacados pelos índios, o que exigiu o uso de armas de
fogo. A ocupação portuguesa no interior da América não foi pacífica. O fato
ocorreu nas proximidades de Cuiabá, em 1820.
Se compararmos mapas do século XVII
com o mapa das entradas e bandeiras (séculos XVII e XVIII), identificamos
alguns elementos geográficos comuns: os rios conhecidos eram os da Bacia do
Prata e da Bacia Amazônica. A zona de contato entre essas duas bacias era a
região do Pantanal, indicada nos mapas como um grande lago no interior do
Brasil. A maioria dos lugares identificados (com nome) está localizada no
litoral. Os portugueses conheciam, do território paulista, seguindo o traçado
dos rios Paraná e Paranapanema, algumas cidades e povoados criados no litoral
paulista, como Itanhaém e São Vicente. As ruínas de missões jesuíticas, nos
atuais territórios do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, estavam
localizadas ao sul da capitania de São Vicente. Nessas regiões, jesuítas
espanhóis haviam ensaiado fixar o índio à terra, por meio da catequese. Vila
Rica, por exemplo, possuía 45 mil habitantes, quando foi invadida e destruída
pelo bandeirante Raposo Tavares, em 1628. Os mapas eram importantes para a
consolidação das posses portuguesas e indicavam os principais caminhos adotados
na exploração do interior do continente.
Uma idéia importante para o desenvolvimento do
conceito de território é a diferenciação entre fronteira e limite:
-
Fronteira é mais amplo e pode ser compreendido como a margem do mundo conhecido
ou habitado. Neste caso, a idéia de fronteira como frente pioneira ou área de
expansão em direção a territórios “vazios” ou “a conquistar” sempre foi muito
forte no caso brasileiro. Contudo, a emergência dos estados nacionais no século
XVIII e processos de demarcação de terras coloniais como ocorreu com Portugal
na América associaram fronteira à linha de divisa entre estados vizinhos;
configura uma zona de contato (fator de integração).
- Limite
tem sua origem no fim daquilo que mantém coesa uma unidade
político-territorial; é uma linha de separação abstrata, porém definida
juridicamente (fator de separação).
As diferenças entre fronteira e limite são
essenciais, uma vez que a primeira é orientada para fora (forças centrífugas) e
a segunda para dentro (forças centrípetas).
Observando os mapas utilizados para a demarcação
dos limites territoriais do Brasil, no século XVIII, identificamos o que estava
em discussão entre Portugal e Espanha: a definição do traçado de linha
divisória. Esses mapas indicavam inúmeros acidentes geográficos, necessários
como pontos de referência da documentação diplomática (amigável). Os rios ou as
cadeias montanhosas foram utilizados para a demarcação dos limites territoriais
do país.
Contudo, a emergência dos estados nacionais no
século XVIII e processos de demarcação de terras coloniais como ocorreu com
Portugal na América associaram fronteira à linha de divisa entre estados
vizinhos.
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