POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO
(do pensamento único à consciência universal)
Milton Santos.
Neste livro, Milton Santos propõe uma interpretação multidisciplinar do
mundo contemporâneo, em que realça o papel atual da ideologia na produção da
história e mostra os limites do seu discurso frente à realidade vivida pela maioria das
nações.
A tirania da informação e a do dinheiro são apresentadas como os pilares
de uma situação em que o progresso técnico é aproveitado por um pequeno número
de atores globais em seu benefício exclusivo. O resultado é o aprofundamento da
competitividade, a produção de novos totalitarismos, a confusão dos espíritos e o
empobrecimento crescente das massas, enquanto os Estados se tornam incapazes
de regular a vida coletiva. É uma situação insustentável.
O autor enxerga nas reações agora perceptíveis na Ásia, mas também na
África e na América Latina e nos movimentos populares protagonizados pelas
camadas mais pobres da população, a semente de uma evolução positiva, que
deverá conduzir ao estabelecimento de uma outra globalização. A tônica desta hora
é a mensagem de esperança na construção de um novo universalismo, bom para
todos os povos e pessoas.
Este novo livro de Milton Santos trata da globalização como fábula, como
perversidade e como possibilidade aberta ao futuro de uma nova civilização
planetária.
Os atores mais poderosos desta nova etapa da globalização reservam-se
os melhores pedaços do Território Global e deixam restos para os outros. Mas a
grande perversidade na produção da globalização atual não reside apenas na
polarização da riqueza e da pobreza, na segmentação dos mercados e das
populações submetidas, nem mesmo na destruição da Natureza. A novidade
aterradora reside na tentativa empírica e simbólica de construção de um único
espaço unipolar de dominação. A tirania do Dinheiro e da Informação, produzida pela
concentração do capital e do poder, tem hoje uma unidade técnica e uma
convergência de normas sem precedentes na história do capitalismo.
O seu caráter globalmente destrutivo acaba porém sendo contraditório,
levando à resistência parcelas crescentes da humanidade a partir de seus distintos
“lugares”. O velho otimismo do grande geógrafo brasileiro reaparece em relação às
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cidades, como espaço de liberdade para a cultura popular em oposição à cultura
midiática de massas, como espaço de solidariedade na luta dos “de baixo” contra a
escassez produzida pelos “de cima”.
A visão de uma nova horizontalidade na luta
dos oprimidos contra a verticalidade dos opressores é comovedora e estimulante, já
que conduz a uma nova utopia.
Produz-se assim, diz ele, uma nova centralidade do social que constitui a
base para uma nova política. Não podendo a esmagadora maioria “consumir o
Ocidente globalizado” em suas formas puras (financeira, econômica e cultural),
aumentará a resistência à dominação ultraliberal e consumista propagandeada pelas
grandes organizações dos meios de comunicação de massas.
A alienação tende a
ser substituída por uma nova consciência, uma nova filosofia moral, que não será a
dos valores mercantis mas sim a da solidariedade e da cidadania.
A unificação da técnica e das normas instrumentais poderá servir então,
dialeticamente, de trampolim para uma nova humanidade, para novos valores
simbólicos que em sua interfecundação e espalhamento abra caminhos a uma nova
civilização planetária.
A História Universal seria então a da nossa humanidade
comum e não mais a dos dominadores.
Maria da Conceição Tavares
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Milton Santos era geógrafo, professor emérito da Universidade de São
Paulo, ganhador do Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud em 1994 e autor
de mais de 30 livros e 400 artigos científicos, publicados em diversos idiomas.
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