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terça-feira, 10 de maio de 2016

1º Ano Ensino Médio Arcadas - Texto de Apoio

Olá Pessoal, tudo bem ? Conforme combinado em sala de aula, estou postando o texto complementar referente às aulas de 10.05.2016.
Bons estudos !!!
Professora Daiane.

A globalização e as redes geográficas

Quando se fala em globalização, é possí­vel entender várias coisas, mas há uma que todos entendem: existe uma presença muito maior do mundo em cada localidade. Isso se expressa pela enorme presença de produtos de diversas partes do mundo e também pelo número elevado de informações sobre o mundo. Parte expressiva do que ocorre, do que se faz, do que se pensa em outras localidades pertence agora a nossa realidade.
Há uma nova organização do espaço geográfico que permite que o mundo esteja aqui e que estejamos no mundo e que a ele pertençamos. Essa nova organização permite que os fluxos se acelerem. E essa nova ordem geográfica é uma ordem de redes geográficas. Palavras-chave na Geografia, como espaço e território, hoje, devem ser acompanhadas por mais uma da mesma importância, a rede geográfica, que é a forma principal dos espa­ços da globalização.
Os territórios nacionais possuem frontei­ras, distâncias geográficas, culturais, políticas e econômicas diversas, mas o contato entre suas populações é cada vez mais intenso e isso se dá por meio de um "concorrente" do território: a rede geográfica. A rede geográfica tem o poder de ultrapassar as fronteiras nacionais. Existiria exemplo mais acabado dessa nova realidade do que a rede técnica mundial da in­ternet?
Veja os mapas “Internautas, 1991-2006” e “Mundo: posse de computadores pessoais no mundo, 2002”, nas páginas 13 e 14, respectivamente. São mapas quantitativos que fazem uso da variável visual tamanho, mapas para ver, pois devido à força expressiva da imagem, qualquer pessoa que os veja, vai perceber que o fenômeno representado é mais relevante nos EUA mesmo sem sa­ber de que fenômeno se trata. “Internautas” é um mapa ordenado que faz uso da variável visual valor (tonalidades de uma única cor, no caso o marrom). As tonalidades mais escuras expressam um número maior de internautas (usuário individual) em grupos de 100 habitantes (o valor mais elevado é de 87,7 por 100) e as mais claras, o contrário. O mapa é acompanhado por um gráfico evolutivo e quantitativo que, por sua vez, faz uso da variável visual tamanho e mostra o crescimento do número de internautas no período de 1991-2006, indicando também o número de vezes que o volume de internautas foi multiplicado. O mapa “Mundo” tem uma força comunicativa poderosa e ao mesmo tempo revela de forma aguda certos fenômenos geográficos.
Ao examinar essa representação, é interessante ter ao lado um mapa mundi convencional. Para definir o tamanho dos continentes, utilizou-se uma métrica numérica, uma medida que não é a convencional com base em km2. Não foi uma métrica territorial. Essa anamorfose sobre a posse de computadores pes­soais poderia não comunicar grande coisa se não tivéssemos todos, uma familiaridade muito grande com as formas convencionais do mapa mundi. Mas como a temos, logo percebemos a força comunicativa das defor­mações.
A linguagem das representações cartográficas foi uma preparação para a exploração cognitiva delas em conjunto. Afinal, elas, cada qual à sua maneira vão dar uma idéia dessa inovação revolucionária na vida humana e na estruturação dos espaços geográficos graças à rede técnica mundial da internet.

Redes geográficas: o espaço de ação das corporações transnacionais
Vamos esclarecer um dos enigmas da globalização e do mundo contemporâneo: a diferença entre termos que parecem ter o mesmo significado. Entre empresa e corporação a diferença é: uma corporação é um grupo que reúne várias empresas de diversos ramos e que concentra muito capital e interesses sob um único controle. Há cor­porações que têm empresas que atuam no ramo do petróleo, no industrial, no agronegócio, no sistema financeiro e na produção de filmes para cinema e televisão, por exemplo. Isso só explica que, quan­do os lucros crescem, os grupos econômicos vão diversificando seus negócios e suas localizações, a fim de garantir maiores lucros. A empresa é individual, só atua em um ramo.
Mas o que significa essa diferença entre uma multinacional e uma transnacional? Observe o esquema simples da página 18 no caderno do aluno. Observem especialmente a presença e o papel das corporações trans­nacionais no esquema. Que espaços, de fato, são aqueles em que as corporações baseiam suas atividades? Serão os espaços nacionais (territórios nacionais) convencionais? As corporações econômicas mais poderosas transcendem os espaços nacionais e criam um espaço global com base numa malha de redes técnicas e geográficas.
Um autor importante pode ser citado nes­se momento. Trata-se do geógrafo brasileiro Milton Santos:

 "O interesse das grandes empresas é economizar tempo, aumentando a velocidade da circulação [...] Corporatização do território é a destinação prioritária de recursos para atender as necessida­des geográficas das grandes empresas."

SANTOS. Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo - razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2008. p. 270.

Os fluxos de mercadorias, de serviços, de informações circulando rapidamente pe­las redes técnicas (transportes e teleco­municações) no mundo todo permitem o acesso a vastos mercados (e muito mais). As corporações que têm acesso, controle e investimento nessas redes técnicas obtém desse fato uma grande dose de poder econômico.
            O prefixo multi significa muitos. Assim, multinacional é uma empresa que opera em vários países, constituída por grandes aglomerados industriais e financeiros. E transnacional? Transcender significa ultrapassar, ser superior. Assim, transnacional é uma empresa que ultrapassa os limites do país em que tem sua sede: está sediada num país e opera a produção ou parte dela em outros. Os dois conceitos se completam: grandes empresas que estão sediadas nos países desenvolvidos e operam ou controlam a produção nos países subdesenvolvidos. O termo global (globalização) refere-se a um processo em andamento, pois na verda­de há muitas áreas ainda fora desse processo (as regiões em branco, os clarões), que sofrem uma “marginalização” em relação à globalização. Essas áreas "fora do eixo" da globalização foram designados como os deserdados da ordem mundial, áreas onde justamente registram-se eventos trágicos, guerras civis e conflitos regionais, tema estudado anteriormente.
            Um exemplo de funcionamento de uma rede geográfica em outro cenário, muito útil para compreender o funcionamento das redes na escala mundial, é a cidade de São Paulo. Essa me­trópole sofre desde os anos 1980 uma profunda reestruturação no seu espaço geográfico: seu território está "invadido" por redes geográficas que se estruturam do seguinte modo:
• Pontos: habitações em condomínio fechado ↔ centros administrativos isolados também em formato de condomínio fechado ↔ centros comerciais (shopping centers, hipermercados) fechados e protegidos ↔ outras instalações do tipo (hotéis, resortsurbanos).
• Linhas: vias expressas, avenidas, cuja circu­lação é predominantemente automobilística.
Os usuários dessas redes geográficas pro­curam concentrar o fundamental de suas vi­das em seu interior: residência, abastecimento, trabalho, estudos, lazer etc. E se possível, rara­mente saem da rede, evitando assim o território pleno da cidade. Pesquisas mostram o número impressionante­mente alto de habitantes da cidade que jamais foram ao seu centro histórico, jamais usaram transporte coletivo e jamais andaram a pé.
Há um custo financeiro para viver nessa rede protegida e ele não é baixo, o que resulta numa "seleção social” e diminui as trocas e as relações entre a população da cidade, em vista dessa separação (segregação?) sofisticada, na sua geografia. As trocas, as relações sociais desses usuários e construto­res de redes se dão quase que somente entre eles. E o que isso tem a ver com as redes geográficas de escala mundial, construídas e alimentadas pelas corporações transnacionais?
Mais de 50% da circulação de capitais, de bens de produção, de serviços, de tecnologia que as corporações transnacionais põem em movimento ocorrem internamente às suas pró­prias redes. Outro ângulo dessa lógica: 30% das exportações mundiais são trocas no interior das redes das corporações. É uma movimentação econômica que não se irradia para os territó­rios dos países onde elas não instaladas.
Essa radiografia geográfica da estruturação transnacional das corporações revela:
1. a im­portância das redes geográficas na globalização que se constrói;
2. um pouco das estratégias e do poder dessas grandes empresas.
Muitos da­dos econômicos podem ser alinhavados para dimensionar mais amplamente a ação das corporações, mas eles poderão ganhar mais signi­ficado se sualógica espacial for considerada.

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