Transformação de lixo em energia já é realidade no Brasil
Biogás seria suficiente para abastecer município do Rio de Janeiro.
Existem hoje, no mundo, 1.483 usinas térmelétricas a lixo.
Em boa parte do mundo, o problema do lixo se transformou em solução
energética. Existem hoje 1.483 usinas térmicas que queimam resíduos
para produzir energia. O Japão lidera o ranking com 800 oitocentas
usinas, seguido do bloco europeu (452), China (100), e Estados Unidos
(86).
No Brasil, há apenas um protótipo com tecnologia 100% nacional operando
no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão.
É a Usina Verde. A plena carga, uma usina como essa é capaz de produzir
energia suficiente para abastecer 15 mil residências, mas o custo ainda
é elevado. Só o protótipo ficou em aproximadamente R$ 50 milhões.
Mais do que produzir energia, o grande beneficio da Usina Verde é
transformar lixo em cinzas. Para cada tonelada de resíduo que entra no
forno, saem 120 kg de material carbonizado. É menos volume e menos peso.
“Essas cinzas podem ser aproveitadas em calçamento ou base asfáltica
para pavimentação de cidades, ou pode ir para aterros, ocupando 12% da
área que seria ocupada normalmente com todos os resíduos sendo
destinados”, diz Mário Amato Neto, presidente da Usina Verde.
A outra forma de produzir energia a partir do lixo já começa a ganhar
escala no Brasil. É o biogás. A parte orgânica do lixo, que é aquela
composta principalmente de restos de comida, podas de árvore ou qualquer
resíduo de origem animal ou vegetal, leva aproximadamente seis meses
para se decompor e virar gás metano, um gás de efeito estufa, de fácil
combustão.
São Paulo foi a primeira cidade do Brasil a aproveitar o biogás como
fonte de energia. Vinte e quatro geradores de alta potência queimam todo
o gás do lixo. As máquinas transformam o biogás do aterro em energia
elétrica suficiente para abastecer 35 mil domicílios da cidade de São
Paulo.
São dois aterros: juntos, o Bandeirantes e o São João respondem por
mais de 2% de toda a energia elétrica consumida na maior cidade do país.
A queima do biogás ainda gera receitas extras para o município. São os
créditos de carbono.
Até junho do ano passado, era o maior aterro de lixo da América Latina.
A partir deste ano, Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, passará a ser o único fornecedor de biogás do mundo para uma
refinaria de petróleo. É um negócio sem precedentes, que dará um destino mais nobre e lucrativo para milhões de metros cúbicos de gás.
“Estamos estimando que isso vai gerar 70 milhões de m³ de metano quase
que puros, que vão ser fornecidos à Reduc após processamento”, afirma
Eduardo Levenhagen, diretor da Novo Gramacho e da Gás Verde. Até julho, o
gás de lixo já estará sendo bombeado até a refinaria Para isso, foram
instalados 300 pontos de captação.
Do aterro, o biogás será levado até uma estação de tratamento para a
retirada de impurezas. Dali, seguirá por um gasoduto de seis quilômetros
de extensão até a refinaria Duque de Caxias. O volume de biogás
bombeado a cada dia para a Reduc vai equivaler a 10% de todo o consumo
da refinaria.
Em um país que gera 182.728 toneladas de lixo por dia, dá para imaginar
o que isso significa em termos de energia? Pelas contas do Ministério
do Meio Ambiente, considerando os 56 maiores aterros do país, a
estimativa é que o biogás acumulado seria suficiente para abastecer de
energia elétrica uma população equivalente à do município do Rio de
Janeiro.
O cenário para 2020 aponta uma produção ainda maior de energia,
suficiente para abastecer 8,8 milhões de pessoas, a população de
Pernambuco. Nesta quinta-feira (28), a Associação Brasileira das
Empresas de Limpeza Pública divulgou que a produção nos 22 aterros onde a
captação de biogás é uma realidade já é suficiente para abastecer de
energia 1,67 milhão de pessoas.
Especialistas garantem que o biogás pode ser um bom negócio. “Pode ser
rentável, mas tem que ser feito com muita cautela. O governo tem que
fazer a parte dele também, investir em incentivos”, diz Cintia Philippi
Salles, gerente de gestão e sustentabilidade da Arcadis Logos.
Tanto o lixo urbano quanto os resíduos agrícolas têm potencial para turbinar a matriz energética brasileira. Para um país que tem fome de energia, não dá mais para abrir mão do que ainda insistimos em chamar de lixo.
Tanto o lixo urbano quanto os resíduos agrícolas têm potencial para turbinar a matriz energética brasileira. Para um país que tem fome de energia, não dá mais para abrir mão do que ainda insistimos em chamar de lixo.
Por André Trigueiro
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